Jan Koum é CEO e co-founder do WhatsApp. Depois de migrar para os EUA com o fim da antiga União Soviética, o ucraniano tinha de buscar todos os dias suas “food stamps” (vale comida para pessoas de baixa renda), não falava a língua local e tinha enorme dificuldade de falar com a família e amigos que ficaram para trás, uma vez que era uma época de ligações internacionais caríssimas. Talvez essa tenha sido a inspiração mais profunda para que ele e seus sócios criassem o WhatsApp, maneira simples e funcional de juntar pessoas, sem propaganda e jogos e que cujo valor está na mensagem e na democratização da comunicação.
Nem em seus sonhos mais delirantes Koum deve ter imaginado que faria uma saída de US$ 19 bilhões entre dinheiro, ações e pacotes de retenção. Isso é equivalente ao valor de mercado da Sony e 30% mais do que o valor da HP. É a maior aquisição de uma empresa financiada por capital de risco (venture capital) da história. A Sequoia capital conseguiu, segundo estimativas, 200 vezes seu investimento de US$ 8 milhões na empresa.
Esta é uma daquelas operações que nos assombram e tentamos entender o que se passa por trás da decisão do Facebook de pagar tanto dinheiro por uma empresa de 50 pessoas, das quais 25 são engenheiros. Rapidamente, enumerei 10 motivos:
- O WhatsApp movimenta aproximadamente 50 bilhões de mensagens por dia, o equivalente a todo o tráfego de SMS do mundo;
- A base de usuários da empresa é de 450 milhões, sendo que 70% dela é ativa todos os dias;
- Esta base cresce um milhão de usuários por dia;
- O Facebook Messenger perdeu a corrida para ser o principal canal de comunicação “social” móvel fora dos EUA. No Brasil, por exemplo, segundo dados do TechCrunch, o market share do WhatsApp entre usuários de iPhone é de 71%, enquanto o Facebook Messenger não passa da metade disso. Na Europa a situação é ainda mais séria, com números incríveis de 97% na Espanha e 81% na Itália;
- O Facebook não tem outras opções de penetração internacional. A chinesa Tencent não tem nenhuma intenção de vender o WeChat com seus 200 milhões de usuários e o mesmo ocorre com o aplicativo Line no Japão e KakaoTalk na Coréia, que tem 88% de market share entre iPhones;
- O Facebook está passando por um processo de “desagrupamento” de funcionalidades. Hoje, é uma suíte de aplicações sociais (a linha do tempo na web, o Paper, o Instagram) e eles precisam de uma jogada mais forte do que o Facebook Messenger no espaço de mensagens. A tentativa de compra do Snapchat mostra isso também;
- Social messaging móvel é a nova mídia social e a preferida dos adolescentes. As plataformas clássicas, como Facebook, LinkedIn e Twitter ficaram antiquadas. O principal produto de todas elas é o “feed de notícias”, que está morrendo. O trabalho que o Path tentou fazer de criar círculos de até 50 amigos foi feito com maestria pelos grupos de mensagens do WhatsApp. Quem não tem um grupo de família e não fecha eventos por ele que jogue a primeira pedra;
- US$ 19 bilhões não significam mais a mesma coisa. O FED, por exemplo, injeta US$ 85 bilhões na economia todo mês para lidar com os sintomas da crise de 2008. Este processo está criando uma bolha em várias classes de ativo, “equities” é uma delas. O dinheiro não vale mais a mesma coisa. Os unicórnios (termo utilizado para startups do clube do 1 bilhão) aumentaram muito de tamanho;
- O social é baseado em compartilhamento de fotos e vídeos para contar histórias e os smartphones são as novas câmeras fotográficas. Primeiro, o Facebook comprou o Instagram e agora adquire o WhatsApp, que já é um dos maiores repositórios de fotos do mundo.
- Mark Zuckerberg deve ter algum sentimento de culpa por ter feito o seu famoso pitch vestindo pijamas para um sócio da Sequoia capital, chamado “10 motivos para não investir” em um negócio fictício chamado Wirehog. O objetivo era “vingar”, moralmente, Sean Parker pelo papel que a firma teve no Plaxo. Piadas à parte, em 2010 ele realmente tinha cartões de visita em que seu cargo era “I am CEO bitch”, que não merece tradução.
Essa aquisição realmente nos faz sentir saudade da época em que achávamos a compra do Instagram incrível e questionávamos porque o Snapchat não foi vendido por US$ 3 bilhões. Agora, estamos em um admirável mundo novo no qual está ocorrendo uma luta diária pela nova mídia social, simples, móvel e ativa.
Essa luta está sendo travada por jogadores com dinheiro quase infinito em um mercado inundado por dólares, mas o prêmio é a nova plataforma de um bilhão de usuários e a consolidação do fragmentado mercado de mensagens sociais móveis, uma aposta de US$ 19 bilhões.
[ Fonte: http://corporate.canaltech.com.br ]
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