Questões financeiras fizeram com que o conglomerado Telecom Italia iniciasse as negociações com possíveis investidores para capitalizar o próprio grupo na Itália. Ao que tudo indica, os negócios firmados até agora poderão modificar a forma de existência da TIM Brasil, vista por alguns analistas como a joia da coroa do grupo de telecomunicações italiano. De acordo com o jornal Valor Econômico nesta manhã, os espanhóis da Telefónica futuramente serão os responsáveis por gerir a operadora brasileira.
Se você quiser pular os detalhes técnicos do negócio, vá diretamente para o entretítulo “Muito confuso. Explica?”
A Telefónica – repare que eu não coloco acento circunflexo porque estou falando do comando global do grupo na Espanha; não da subsidiária brasileira – vai aumentar a participação até assumir o controle do veículo de investimentos Telco, um dos acionistas da Telecom Italia. Em seguida, o combinado é que os demais sócios na Telco gradualmente reduzam suas fatias, para que a Telefónica ganhe mais importância dentro do grupo.
Inicialmente, os espanhóis pagarão 324 milhões de euros para aumentar a participação que possuem na Telco. Na segunda fase de transação, eles vão investir mais 117 milhões de euros para alcançar 70% de controle do veículo de investimentos.
No total, a Telefónica movimentará o equivalente a R$ 1,3 bilhão.
E por que os italianos estão dispostos a abrir mão da Telecom Italia? Para capitalizar a empresa e diminuir a dívida estimada em US$ 38 bilhões.
Muito confuso. Explica?
Entrar em detalhes financeiros só interessa a quem efetivamente opera no mercado de ações. Para simplificar, vamos lá: a Telco é detentora de 22,4% da Telecom Italia, sendo, portanto, o acionista majoritário e controlador da empresa. Quando a Telefónica decide aumentar a participação dela na Telco para até 70%, na verdade ela está pavimentando o caminho para mais tarde assumir o controle da própria Telecom Italia.
Com mais dinheiro em jogo, os espanhóis poderão nomear diretores e ampliar o número de votos no conselho de administração. Eles precisam disso tudo para dirigir a empresa. A Telefónica acaba se tornando um colosso global ainda maior no mercado de telecomunicações e de quebra começa a atuar em um país europeu onde atualmente não está presente.
Trata-se da velha tática de gastar dinheiro agora para ficar maior e mais poderoso futuramente, com o objetivo de aumentar o número de clientes, de receita e o poder de barganha perante os fornecedores. Eles também poderiam tentar crescer organicamente depois de iniciar uma tímida operação na Itália, mas o mercado de telecomunicações está bastante estabilizado para que um novo jogador entre dessa forma e se dê bem – ao menos na Europa.
Como fica no Brasil?
A TIM é vista atualmente como a principal operação da Telecom Italia no mundo. O problema é que uma transação unificando a Vivo e a TIM dificilmente seria aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade, o órgão que regula a competição no mercado) sem restrições ou imposições. Afinal, estamos falando da número um e da número dois em um mercado com quatro grandes jogadores.
O grupo Telefónica até poderia manter a operação aqui funcionando à parte, mas eu vejo essa opção como improvável.
Outra alternativa seria vender a operação da TIM para um terceiro interessado. Dessa forma, a Telefónica continua controlando um importante grupo de telecomunicações fora da Espanha, mas não fica com a dor de cabeça de se resolver com o governo brasileiro.
Reza a lenda que a americana AT&T tem vontade de desembarcar no Brasil para concorrer com a tacanha iniciativa privada nacional. Seria este o momento propício para chegar ao país? Não sabemos. Outra candidata a adquirir a operadora, segundo comenta-se no mercado, é a inglesa Vodafone (concorrente da Telefónica no lado de lá do Atlântico).
É esperado que qualquer modificação na organização da TIM no Brasil ocorra a partir do ano que vem. Por enquanto, trata-se de uma movimentação puramente de negócios.
Entramos em contato com o escritório da Vivo para perguntar sobre o negócio, mas a empresa não respondeu até o momento em que este texto foi originalmente publicado. A TIM não comentará assuntos relativos a Telecom Italia.
Governo italiano não vai se meter
A imprensa italiana bate na tecla da possibilidade de uma empresa genuinamente daquele país passar para o controle de estrangeiros. Mais ou menos nos moldes do que foi falado quando a Portugal Telecom ganhou mais importância dentro da brasileira Oi. Embora a pressão seja no sentido contrário ao negócio, o governo italiano fez questão de dizer que não irá intervir nas negociações. Se quiserem vender o grupo, que vendam. Atualmente, a Itália tem preocupações maiores: salvar a própria economia, aumentar o nível de emprego e sair de vez do domínio do mal perpetrado pelo ex-premiê Silvio Berlusconi.
Fonte: http://tecnoblog.net
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