Verdade seja dita: a Apple perdeu o poder de inovar. Já virou regra manter grandes expectativas antes de um lançamento e se frustrar após o término do evento. Isso se reflete inclusive no valor das ações da empresa, que despencaram cerca de 3% após o lançamento dos iPhone 5S e 5C. Pode não parecer muito, mas são bilhões e bilhões de dólares em ativos.
Indo um pouco mais longe, o valor da empresa despencou no último ano, indo de mais de US$ 700 por ação em outubro de 2012 para os atuais R$ 500, sendo que em Abril e Julho deste ano elas ficaram abaixo dos US$ 400, como mostra o gráfico abaixo, retirado do Yahoo! Finanças:
Mais do mesmo...de novo
E qual é motivo? São vários, em que talvez o principal seja a postura da empresa em relação aos seus produtos. O iPhone 5S e 5C trazem pouca coisa de novo, onde o primeiro é uma versão um pouco turbinada do iPhone 5 e o segundo é exatamente o iPhone 5, só que de plástico, o mesmo material que a Apple tanto criticava nos concorrentes. Fãs do mundo inteiro aguardaram ansiosos para ver basicamente o mesmo iPhone 5 lançado há um ano atrás.
E enquanto Tim Cook e Jony Ive rasgam elogios nos lançamentos, ignoram completamente as ansiedades dos seus próprios consumidores. Tanto em nosso Live Blog do lançamento dos dois quanto na imprensa mundial, duas perguntas apareciam repetidas vezes: ele vai ter uma tela maior? Os novos modelos vão conseguir ficar um dia inteiro fora da tomada? Não e não. Com um ano entre um lançamento e outro, a Apple fez o que queria fazer, e você vai ter que comprar e pronto.
Podemos resumir a necessidade de um iPhone 5S na seguinte variável: você precisa de um sensor de impressões digitais no seu botão Home? Não? Então pode ficar com o seu modelo atual, pois a diferença é basicamente essa. Ah, esquecemos que agora ele possui mais cores disponíveis. E o iPhone 5C? É exatamente o mesmo iPhone 5, só que de policarbonato e, não podemos esquecer, as mesmas cores da série Lumia da Nokia. Ou das sandálias Crocs, se você preferir.
Nada de inovação, agora a regra é cópia da concorrência
Há poucos anos atrás, todos ficavam ansiosos por um lançamento e ficavam satisfeitos com o que viam. A Apple lançou o iPhone original, primeiro smartphone a realmente fazer sucesso mundial. Inovou na forma como consumimos música com o iTunes, popularizou os tablets com o iPad, mostrou a importância de uma tela de alta resolução com o conceito de Retina e fomentou a criação de aplicativos de alto nível, o que criou empresas de apps de sucesso.
Ultimamente não há nada de novo, apenas uma corrida atrás da concorrência. Leitor biométrico? Disponível no Motorola Atrix desde 2011, quando lançado. Tela Retina? Apanha para praticamente qualquer smartphone top atualmente, de qualquer plataforma (e olha que não são poucos). Filmar em 120 frames por segundo? O Galaxy Camera da Samsung, e o Moto X já trazem esse recurso. E não vamos nem falar da "inovadora" área de notificações do iOS 7.
Sendo um pouco mais generalista, a Apple não anunciou um recurso sequer que já não estivesse embarcado em um concorrente, quebrando anos de inovação e pionerismo. E parece que isso não só não vai mudar como vai se intensificar. Fazendo um resumo, no espaço de 1 ano entre o iPhone 5 e 5S, a concorrência jogou no modo "hard", enquanto a Apple ainda insiste em segurar recursos, parecendo mais um "newbie" do que uma empresa que quer continuar símbolo de inovação.
Desenvolvedores
A Apple afirma que continua sendo uma empresa sólida e se comporta como se fosse à prova de qualquer crise, e mesmo que isso passe uma sensação de segurança para os investidores, não é totalmente verdade. Não é o iPhone que faz sucesso, não importa quantos elogios a empresa use em suas keynotes. São os desenvolvedores que fazem o trabalho pesado e seguram os consumidores.
Não há o que contestar, os apps do iOS são melhores, mais leves e bem escritos do que os do Android e Windows Phone 8. São bons o suficiente para que os usuários os comprem e façam um bom negócio, o que rentabiliza bem os desenvolvedores em uma via de mão dupla. Mas vamos encarar os fatos: mesmo que isso seja verdade, usuários de iOS cada dia mais consideram uma outra plataforma, e isso está trazendo os desenvolvedores junto.
E não é só Android que sai ganhando. O Windows Phone 8 também não pára de crescer, mesmo que em um ritmo lento. A cada dia que passa o iOS perde participação de mercado para as duas platafromas, o que pode levar a Apple em um ponto de não retorno. Se ela perder os desenvolvedores, o iOS está morto. O iPhone, sozinho, não é capaz de concorrer com o mundo inteiro, perdendo em praticamente qualquer comparativo que se faça com os lançamentos atuais.
iPhone não é mais símbolo de status
Antes, estar em uma roda de amigos segurando um iPhone passava a imagem de uma pessoa com gostos refinados e com um "status quo" superior. E era mesmo, já que a concorrência estava sempre um passo atrás, mas hoje é diferente. Atualmente é mais ou menos "legal esse seu iPhone, mas meu modelo X faz isso, isso e isso que o iPhone não faz", sendo apenas um sinal de que você pode pagar um iPhone, e nada mais.
Durante o Live Blog que fizemos a Nokia publicou uma imagem dizendo que "Imitação é a melhor forma de elogio", sobre o fato de as cores do iPhone 5C serem praticamete iguais a da série Lumia da empresa (sério, são praticamente idênticas).
O pessoal do 9GAG foi ainda mais longe, postando um vídeo piada dos comerciais da Apple de uma forma bastante sutil. Basicamente, eles dizem que a empresa pode fazer qualquer coisa que os consumidores vão comprar de qualquer jeito. Mostramos ele abaixo, mas é uma pena que está em inglês e não possui legendas.
E de quem é a culpa?
Muitos dizem que a morte de Steve Jobs fez a Apple perder o rumo. De fato, se ele ainda estivesse vivo a atual posição do iPhone poderia estar muito melhor, mas não é só esse o problema. Na época de Jobs, a concorrência não era tão acirrada, então as poucas mudanças de um iPhone para outro não pegavam tão mal assim. A ideia era basicamente a seguinte: se colocar tudo de bom em um modelo, quem vai comprar o próximo?
Hoje a água está praticamente batendo no pescoço da Apple, e Tim Cook ou não percebeu isso ainda, ou não se importa. Tudo bem que ele não tem o mesmo carisma de Steve Jobs, mas se compensasse isso com lançamentos inovadores, poucos se importariam. Outro que podemos mencionar é Jony Ive, criador do design original dos produtos da Apple.
De quem é a culpa? Não é de Tim Cook, nem de Jony Ive, mas dos líderes da empresa em geral. Uma simples reunião onde alguém se levantasse e dissesse: "Pessoal, estamos perdendo mercado e isso não é bom. É hora de virar o jogo e lançar algo que realmente surpreenda as pessoas antes que a concorrência fique mais forte.". A Apple tem dinheiro em caixa e, podem ter certeza, recursos inovadores engatilhados. Bastava apenas colocar alguns deles a mais nos lançamentos que a história seria completamente diferente.
Enquanto isso, no Brasil
Temos o iPhone mais caro do mundo, o 4G do iPhone 5 não funciona aqui, a assistência da Apple é ridícula se comparado à de vários países e ainda por cima temos que engolir modelos com 8 GB de memória interna, algo que os consumidores americanos não admitem. Verdade seja dita, a Apple está pouco se lixando para o Brasil. Os modelos são fabricados por aqui, então o preço é basicamente um lucro exorbitante somado ao custo Brasil, e ainda assim temos uma experiência consideravelmente pior do que outros países?
Após o lançamento do iPhone 5S e 5C, os preços da Apple Store baixaram, certo? Errado. O que eles fizeram foi colocar versões de 8 GB à venda, o que diminui o custo de fabricação. Não é promoção. Não é incentivo. É se livrar do estoque com um desconto imaginário para cobrar caro pelo iPhone 5S e 5C quando estes forem lançados por aqui...em dezembro. Ainda por cima seremos um dos últimos a receber, e podem ter certeza: o preço dos primeiros modelos será pornograficamente alto.
Os fãs de carteirinha da empresa podem até fazer fila para comprá-lo, mas podemos chutar que, este ano, o número será consideravelmente menor.
Fonte: http://canaltech.com.br/
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